quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Noite de inferno (Artur Rimbaud)



Bebi um grande gole de veneno. - Três vezes bem-dito o conselhoque até mim chegou! Abrasam-se-me as entranhas. A violência doveneno convulsiona-me os membros, desfigura-me, atira-me ao solo.Morro de sede, sufoco, não posso gritar. É o inferno, a condenaçãoeterna! Olhai como o fogo cresce. Queimo como devo queimar! Sai,demônio!Havia entrevisto a conversão ao bem e à felicidade, a salvação.Posso descrever a visão? O ar do inferno não tolera hinos! Erammilhões de criaturas encantadoras, um suave concerto espiritual, aforça e a paz, as nobres ambições, que sei eu?As nobres ambições!E é ainda a vida! - Se a condenação é eterna! Um homem que quermutilar-se está condenado, não é assim? Acredito-me no inferno,logo estou nele. É o cumprimento do catecismo. Sou escravo de meubatismo. Pais, fizestes a minha desgraça e a vossa! Pobre inocente! -O inferno nada pode contra os pagãos. - É a vida. Mais tarde, asdelícias da condenação serão mais profundas. Um crime, depressa,que as leis humanas me precipitem no nada.Cala-te, mas cala-te!... Esta é a vergonha, esta a repreensão: Satã quediz que o fogo é ignóbil, que minha cólera é terrivelmente louca.

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