sábado, 17 de janeiro de 2009

ÚLTIMAS PALAVRAS DE VIRGÍNIA WOOLF A SEU MARIDO


"Querido,Tenho certeza de estar ficando louca novamente. Sinto que não conseguiremos passar por novos tempos difíceis. E não quero revivê-los. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Portanto, estou fazendo o que me parece ser o melhor a se fazer. Você me deu muitas possibilidades de ser feliz. Você esteve presente como nenhum outro. Não creio que duas pessoas possam ser felizes convivendo com esta doença terrível. Não posso mais lutar. Sei que estarei tirando um peso de suas costas, pois, sem mim, você poderá trabalhar. E você vai, eu sei. Você vê, não consigo sequer escrever. Nem ler. Enfim, o que quero dizer é que depositei em você toda minha felicidade. Você sempre foi paciente comigo e incrivelmente bom. Eu queria dizer isto - todos sabem. Se alguém pudesse me salvar, este alguém seria você. Tudo se foi para mim mas o que ficará é a certeza da sua bondade. Não posso atrapalhar sua vida. Não mais. Não acredito que duas pessoas poderiam ter sido tão felizes quanto nós fomos.V."


Escreveu este bilhete, vestiu um casaco, encheu os bolsos de pedras e entrou no Rio Ouse.

Ter ou não ter namorado, eis a questão Atribuído a Carlos Drummond de Andrade,mas é de Artur da Távola

[veja pau e cobra]

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabira, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado mesmo é muito difícil.
Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio, e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.
Quem não tem namorado não é quem não tem amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento, dois amantes e um esposo; mesmo assim pode não ter nenhum namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche da padaria ou drible no trabalho.
Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar lagartixa e quem ama sem alegria.
Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade, ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de curar.
Não tem namorado quem não sabe dar o valor de mãos dadas, de carinho escondido na hora que passa o filme, da flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque, lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada, de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia, ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo, tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir, fazer sesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele; abobalhados de alegria pela lucidez do amor.
Não tem namorado quem não redescobre a criança e a do amado e vai com ela a parques, fliperamas, beira d'água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato de seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.
Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.
Não tem namorado que confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.
Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando 200Kg de grilos e de medos. Ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesma e descubra o próprio jardim.
Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenção de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteio.
Se você não tem namorado é porque não enlouqueceu aquele pouquinho necessário para fazer a vida parar e, de repente, parecer que faz sentido.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

MAS...


Ando pensando muito... e quanto mais penso, tenho menos certeza da vida. Preciso urgentemente tirar férias do mundo e o mundo tirar férias de mim.

Caminho pelos corredores sonolenta e febril, nada do que penso ou faço pode modificar a rotina interminável das horas.

Gosto de sentir a existência da natureza na vida: o vento, os pássaros lá fora... mas nada disso modifica o meu estado de constante morbidez.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

DEVANEIOS

Entrei de fininho em um 1,99 e comprei uma bola de cristal só pra prever o meu futuro. antes de chegar em casa ela estourou e virou mil e um estilhassos no meio do caminho.

Entrei numa conveniência, comprei um wisky barato e virei de uma vez só, fiz isso pra tentar melhorar a visão do meu mundo.

E, quando pisei na porta do quarto de dormir, um velho espelho desbotado pendurado na parede falou comigo umas coisas que queria acreditar, mas por ora se tornaram impossíveis.

Fiz um grande charuto dos velhos textos de teatro que tenho e fumei de uma vez só, pra ver se melhoro de uma tosse antiga e companheira, mas me entalei com um texto nordestino que sempre gostei e passei a vomitá-lo letra por letra.

HUMANO

Quero acreditar na inocência humana... faço um esforço monstruoso para isso, mas é muito difícil acreditar naquilo que não se vê. Ainda mais quando o mundo inteiro tenta convercer-te que o melhor a fazer é catar uma mochila e desaparecer na escuridão da noite sem deixar vestígios.
Sinto uma enorme necessidade de acreditar nas pessoas, pois desconfio sempre e gratuitamente. sempre sou alvo de falsas promessas e de fatos estranhos envolvendo pessoas fiéis e boas. Tento acreditar na inocência dos homens, mas um milhão deles me provam diariamente que isso é impossível.
Gosto de pensar positivamente, mas desconfio sempre antes de confiar, só pra prevenir a queda de cima do salto, pois cair de um Luiz XV é dolorido demais. Busco o lado bom das pessoas, apesar delas insistirem em me mostrar sua face oculta.