quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A NUVEM DE CALÇAS

Se quiserem,


serei apenas carne louca
e, como o céu, mudarei de tom.
Se quiserem,
serei impecavelmente delicado;
não serei homem, mas uma nuvem de calças!


Acham que é um delírio de malária?
Mas isto aconteceu:
aconteceu em Odessa.

Disse Maria: «Virei às quatro.»
Mas deram as oito.
E deram as nove.
E deram as dez.
E a tarde
da janela fugiu
para o nocturno horror,
umbroso
e dezembrino.



Ninguém poderia agora reconhecer
este gigante musculoso
que geme
e se contorce.



De que vale
ser de bronze
com um coração de ferro frio?
Entretanto fervem e saltam as rimas
de amor aos rouxinóis e outras bagatelas
e a rua contrai-se em pantomima –
não tem com quem cantar e discorrer.


Os Krupp fazem as cidades
com o cenho franzido
e a boca
cheia de palavras como mortos:
só duas vivem, engordando:
«sacana»
e ainda outra qualquer -
«sopa», parece.

Os poetas,
amolentados com soluços e choros,
abandonaram as ruas de melena no ar:
«Como se pode cantar com tais palavras
a mulher,
o amor
e as florinhas orvalhadas?»


Atrás dos poetas,
toda a nação:
estudantes,
prostitutas,
capatazes.


Senhores,
parem!
Não sois mendigos,
nada de pedir esmola!


Tirai, transeuntes, as mãos dos bolsos –
pegai em pedras, bombas e facas,
e quem não tiver mãos venha dar cabeçadas!
Venham, famintos,
suados,
sujos, submissos
e mordidos pelas pulgas!


Ai, para que é isto?
Donde vem isto?

(Vladimir Maiakovski)

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Entenda

Faz tempo que não quero mais,
Que não sinto nem desejo nem nada,
Faz tempo que a emoção acabou
Que o tempo varreu e soprou pra longe.

Faz muito tempo que quero estar só
que não tenho mais ânimo pra nada.
Faz tempo que entendi tudo,
que ja não posso te ter.

Faz tempo que não quero ter ninguém
que prefiro às longas horas de leitura
a qualquer presença vazia
não gosto de estar com alguém em silêncio

Não gosto desta solidão acompanhada
Se é pra estar só,
quero que seja de verdade
Prefiro a companhia dos meus livros.

domingo, 4 de outubro de 2009

As sem-razões do amor (Carlos Drummond de Andrade)

http://www.akashalioncourt.prosaeverso.net/audio.php?cod=22731

AMOR ANTIGO

Ao Amor Antigo

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.


O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.


Se em toda parte o tempo desmorona
 aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.


Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Incognita

Sim
tô.
Sinto, sinto, sinto...
Nada.
Não sinto, não sinto.

domingo, 20 de setembro de 2009

Reflexão

Tem dias que as pessoas se mostram transparentes,
limpidas como água de mina,
mas na maioria deles a obscuridade paira.
Os humanos tem um defeito:
valorizar aquilo que não tem
ou perdeu.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Eu levo o seu coração comigo (e. e. comings) tradução de Regina Werneck

eu levo o seu coração comigo (eu o levo nomeu coração) eu nunca estou sem ele (a qualquer lugar que eu vá, meu bem, e o que que quer que seja feitopor mim somente é o que você faria, minha querida)
tenho medo
que a minha sina (pois você é a minha sina, minha doçura) eu não queronenhum mundo (pois bonita você é meu mundo, minha verdade)e é você que é o que quer que seja o que a lua signifiquee você é qualquer coisa que um sol vai sempre cantar aqui está o mais profundo segredo que ninguém sabe(aqui é a raiz da raiz e o botão do botãoe o céu do céu de uma árvore chamada vida, que crescemais alto do que a alma possa esperar ou a mente possa esconder)e isso é a maravilha que está mantendo as estrelas distanteseu levo o seu coração ( eu o levo no meu coração)

domingo, 13 de setembro de 2009

Necrológio dos desiludidos do amor

Os desiludidos do amorestão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.

Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todasas providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas os veremos
seja no claro céu ou no turvo inferno.

Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia...

Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados completamente
(paixões de primeira e de segunda classe).

Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.
(do Grande Poeta Carlos Drummond de Andrade)

terça-feira, 8 de setembro de 2009

A VOZ

segui umas pegadas na areia
que levavam a um lugar estranho
e dentro de uma gruta escura
havia uma luz morena.
uma voz melodiosa que me puxava pro fundo.
como encanto de sereia, hipnotizava...

ouço sempre esta voz me chamar
e sinto que nos últimos tempos
se aproxima cada vez mais...
está em todos os lugares
na minha cabeça,
soprando no vento,
entrando pela janela do meu quarto,
quando atendo o telefone...

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Fúria

Me iluda sempre, com mentiras boas,
me livre da verdade que corta e rasga.
Não me nega nada,
não me tire o doce
que você meteu na minha boca.
não me diga nada,
se for pra dizer tudo.
quero ser iludida com mentiras boas.

quero ser pra sempre
seu amor eterno
sua amante louca
sua fêmea solta.
quero ir pra perto
e sentir seu cheiro.
e morrer na água
que cai de sua boca.

Me tire do sério
me bata na cara
me provoque, mesmo.
diga ser meu homem.
Mas nunca se esqueça
que eu sou felina
que eu dou o troco
que arranho e mordo,
mas depois eu sopro.
me iluda sempre, com mentiras boas...

Castigo

De repente nua,
na rua
ali ao meio-dia.
De repente nua, crua
você me deixou
despedaçou, despetalou.
De repente solta,
você derrubou
a carapuça, carapaça
rasgou a couraça.
E a nudez perplexa,
perversa, desconexa.
e para que quero mais?
já basta.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Enterro...desterro...despacho

Ando seguindo os passos do passado, mas as pegadas estão se apagando...
e o vento está carregando as lembranças para uma outra dimensão.
fiquei chocada com um papo de esquina.
lembrei de noites geladas encostada numa coluna de um prédio da cidade...
mas nunca mais chorei por isso.
Todo o corpo tremeu ao receber notícias velhas.
Passado?
Presente? Meu presente?
Um encontro e nada mais.
Disse: "acho que foi o destino".
Não acho.
deixei de achar qualquer coisa a muito tempo.
O trem passou e eu fiquei na estação ainda a esperar.
Me perdi entre pegadas e passos incertos
que não levavam a lugar algum.
não quero mais falar nisso.
não quero mais ver isso.
nem ouvir nada sobre isso.
Fechei de vez esta página do livro
e vou queimá-lo amanhã
numa fogueirinha de papel
e cantar alguma coisa
como musica fúnebre.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Sem título, mas com vontade

Um calafrio. escorreu pelo braço uma gota de suor. na ponto do dedo parou e devagar pingou no chão. do outro lado estava o que tanto se esperou por anos. ali, ao alcance do dedo. disparado, o coração parecia pular e subir pela garganta. uma estranha sensação de gozo e calmaria. extase e tédio, tudo em um mesmo frasco. uma vontade de poder voar e viajar no tempo. inventar o tele-transporte.
só mais vez ouvir a sua voz. pela última vez. ou, quem sabe a primeira de muitas. sonhei com um anjo esbelto e acordei perturbada e suada. medo. e uma vontade louca que nunca terminasse a noite. a espera eterna de um toque.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

HOUVE UM TEMPO...

Vi um lobo sem os caninos, sonhando na madrugada;
uma raposa sem malícia que ia sem rumo;
e um gato branco virando a esquina,
sem provocar perigo algum;
houve um tempo que tudo foi diferente:
chorei numa noite especial
quando devia sorrir;
e muitas outras noites chorei também...
houve um tempo em que quase nada era importante,
gostava do frio que fazia naquela casa de vidro.
Ouço ainda hoje aquela fita cassete com músicas...
Que doce me soa essa voz...
E as letras foram feitas pra mim.
Uma lágrima sempre escorre até o meu lábio.
Não me pergunte por quê.
Nunca saberei responder.
Tears in Heaven é uma trilha sonora
de uma história sem fim.

http://www.youtube.com/watch?v=AscPOozwYA8&eurl=http%3A%2F%2Fletras%2Eterra%2Ecom%2Ebr%2Feric%2Dclapton%2F7762%2F&feature=player_embedded#t=18

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

PENSO, LOGO DESISTO...

Penso em uma maneira de melhorar os dias.
em uma forma de viver melhor...
uma tentativa insana de correr atrás da alegria
tem coisas que quando mais se corre atrás,
mas elas lhe escapam entre os dedos.
resolvi abdicar de todos os direitos que tenho
e em compensação não me importo mais com os deveres.
Adoraria quebrar todas as leis do mundo
anarquisar de vez...
Penso sempre em uma maneira de pular os dias...

segunda-feira, 27 de julho de 2009

A canção




Uma noite sonhei que morava dentro de uma música


tão leve, suave como uma pluma voando ao sabor do vento


viajava e sonhava e me dissolvia em líquidos coloridos


enquanto a orquestra tocava freneticamente...

aos sons de violinos, pianos e sininhos sinistros caminhava


e pétalas aveludadas de rosas tocavam meus pés...


nunca mais desejei sair desta música, tão doce melodia!


tão enebriante o som de seus sininhos!


e o coral de vozes graves que me carregava para dentro de túneis coloridos


me perdi e nunca mais desejei voltar...


"A canção que escutei


Una vez en deciembre."


Palavras ao vento

É.. é tão imenso o céu e tão puro o ar, menos a vida que está cada dia mais suja...
tantas flores por aí, tanto céu, tanto mar e a vida assim se despedaçando em migalhas...
tanta vontade de viver, tanta alegria escondida e a vida assim nessa coisa estranha e escura...
que bobeira a nossa, basta simplificar e esquecer de viver, basta não querer mais nada, nem mesmo viver...
só sofre quem não goza
só chora quem não goza
só trai quem é frustado
e só vive assim nessa estranha coisa quem esta amarrado por linhas invisíveis
existem coisas incompreensíveis e pessoas mais incompreensíveis ainda
estas últimas deveriam morrer só, com um cancer no coração
pois afinal, elas nem tem esse orgão
nada é tão bom como um barra de chocolate amargo, nem mesmo beijos apaixonados
se é que isso existe
acabo de concluir:
todos os sentimentos são pura ilusão, somente o doce sabor amargo de um chocolate
é real e bom.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

SEM TÌTULO E SEM VONTADE


O tempo... velho e companheiro. sob o ponteiro das horas bate o tempo, sem pressa e monótono.
E nesses dias tão cheios de poeira e de momentos fúteis posso observar a inutilidade do tempo.
Seu tédio e sua agonia. um segundo mais longo de horas inteiras.
Nada, somente o som de correntes se arrastam pelos cômodos.
O bater das janelas nos batentes.
Imagem: Relógios Moles de Salvador Dalí.

sábado, 17 de janeiro de 2009

ÚLTIMAS PALAVRAS DE VIRGÍNIA WOOLF A SEU MARIDO


"Querido,Tenho certeza de estar ficando louca novamente. Sinto que não conseguiremos passar por novos tempos difíceis. E não quero revivê-los. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Portanto, estou fazendo o que me parece ser o melhor a se fazer. Você me deu muitas possibilidades de ser feliz. Você esteve presente como nenhum outro. Não creio que duas pessoas possam ser felizes convivendo com esta doença terrível. Não posso mais lutar. Sei que estarei tirando um peso de suas costas, pois, sem mim, você poderá trabalhar. E você vai, eu sei. Você vê, não consigo sequer escrever. Nem ler. Enfim, o que quero dizer é que depositei em você toda minha felicidade. Você sempre foi paciente comigo e incrivelmente bom. Eu queria dizer isto - todos sabem. Se alguém pudesse me salvar, este alguém seria você. Tudo se foi para mim mas o que ficará é a certeza da sua bondade. Não posso atrapalhar sua vida. Não mais. Não acredito que duas pessoas poderiam ter sido tão felizes quanto nós fomos.V."


Escreveu este bilhete, vestiu um casaco, encheu os bolsos de pedras e entrou no Rio Ouse.

Ter ou não ter namorado, eis a questão Atribuído a Carlos Drummond de Andrade,mas é de Artur da Távola

[veja pau e cobra]

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabira, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado mesmo é muito difícil.
Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio, e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.
Quem não tem namorado não é quem não tem amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento, dois amantes e um esposo; mesmo assim pode não ter nenhum namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche da padaria ou drible no trabalho.
Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar lagartixa e quem ama sem alegria.
Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade, ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de curar.
Não tem namorado quem não sabe dar o valor de mãos dadas, de carinho escondido na hora que passa o filme, da flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque, lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada, de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia, ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo, tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir, fazer sesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele; abobalhados de alegria pela lucidez do amor.
Não tem namorado quem não redescobre a criança e a do amado e vai com ela a parques, fliperamas, beira d'água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato de seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.
Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.
Não tem namorado que confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.
Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando 200Kg de grilos e de medos. Ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesma e descubra o próprio jardim.
Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenção de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteio.
Se você não tem namorado é porque não enlouqueceu aquele pouquinho necessário para fazer a vida parar e, de repente, parecer que faz sentido.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

MAS...


Ando pensando muito... e quanto mais penso, tenho menos certeza da vida. Preciso urgentemente tirar férias do mundo e o mundo tirar férias de mim.

Caminho pelos corredores sonolenta e febril, nada do que penso ou faço pode modificar a rotina interminável das horas.

Gosto de sentir a existência da natureza na vida: o vento, os pássaros lá fora... mas nada disso modifica o meu estado de constante morbidez.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

DEVANEIOS

Entrei de fininho em um 1,99 e comprei uma bola de cristal só pra prever o meu futuro. antes de chegar em casa ela estourou e virou mil e um estilhassos no meio do caminho.

Entrei numa conveniência, comprei um wisky barato e virei de uma vez só, fiz isso pra tentar melhorar a visão do meu mundo.

E, quando pisei na porta do quarto de dormir, um velho espelho desbotado pendurado na parede falou comigo umas coisas que queria acreditar, mas por ora se tornaram impossíveis.

Fiz um grande charuto dos velhos textos de teatro que tenho e fumei de uma vez só, pra ver se melhoro de uma tosse antiga e companheira, mas me entalei com um texto nordestino que sempre gostei e passei a vomitá-lo letra por letra.

HUMANO

Quero acreditar na inocência humana... faço um esforço monstruoso para isso, mas é muito difícil acreditar naquilo que não se vê. Ainda mais quando o mundo inteiro tenta convercer-te que o melhor a fazer é catar uma mochila e desaparecer na escuridão da noite sem deixar vestígios.
Sinto uma enorme necessidade de acreditar nas pessoas, pois desconfio sempre e gratuitamente. sempre sou alvo de falsas promessas e de fatos estranhos envolvendo pessoas fiéis e boas. Tento acreditar na inocência dos homens, mas um milhão deles me provam diariamente que isso é impossível.
Gosto de pensar positivamente, mas desconfio sempre antes de confiar, só pra prevenir a queda de cima do salto, pois cair de um Luiz XV é dolorido demais. Busco o lado bom das pessoas, apesar delas insistirem em me mostrar sua face oculta.