terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Dedos finos
apontando ao longe.
Unhas roídas de espera.
Soluços e sons
de gotas
ditam o ritmo a noite.
Dorotéia no telhado.
observava o vazio.
A lua sorriu,
Riso irônico.
Negro, o tapete
do infinito, espalhou-se.
Sentada no alto
Dorotéia sorria
a contar pingos de luz.
Sentiu a brisa
beijar-lhe os fios
Arrepio longo
de tesão ou dor.
Sorriu, enquanto
o mundo seguiu
indiferente.
 

domingo, 28 de dezembro de 2014

Em queda constante:
cai água lá fora,
cai a vontade
caem os olhos.
Quedam-se
os pensamentos
e até mesmo
a tristeza caiu.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Crises balzaquianas
soprando aos ouvidos,
sussurrando defeitos
que jamais foram percebidos.
Invisíveis imperfeições
que só o olhar
furioso de uma dama
pode avistar.
Núbio olhar
confundido pelo
astigmatismo.
Nenhum membro
aparente falta-lhe.
Nem órgão interno
que acuse em raio-x.
Somente engolida
pela submissa
fronte popular
que dita as regras.
Envolvida pela
fineza do belo,
pela ilusão e júbilo
do fácil elogio.


Silenciar
por um instante:
talvez por horas
ou dias inteiros.
Cá fora calado
tentando ouvir
o tilintar da alma.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Bocejos de espera
na mesa de escritório
A agonia da longevidade
das coisas.
O barulho interminável
das  batidas
saindo do peito,
pelos corredores ecoando
e quebrando o silêncio.
A espera: uma indesejada
fera corroendo o tempo.
Longo expediente,
um segundo apenas
de satisfação e passa.
Passa, indiferente
à ensurdecedora
batida do peito.
Passa, com seus
olhos de lince.
Passa, com seu sorriso
luminoso.






segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

No escuro do quarto
entre o silêncio de suas paredes
aguardava.
Olhos fixados no teto
lacrimejando espera.
Desejos de solidão
minutos de vontade
por um segundo de olhar.
Tempo corrido em
meses.
O Sertão invadindo
cada gota de lágrima.
A espera infundada.
Da Fortaleza,
a mais frágil porcelana
quebrada em mil partes.
Fragilizada, sutil...
A longa espera
por seu toque
de luva branca
e espada.
A longa espera
por sua voz de comando
em franco-português.
Sonhos de uma noite
carregados em baú
com chave e segredo.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

AmArte

Nada tenho
de meu
a não ser
a minha arte.
Mesmo
o que prometeu
em pouco meses
se parte.
Enlouqueço
empobreço
enriqueço...
empobreço
A arte não
me abandona
não se importa
com meus gritos
não se aflige
com meus passos.
Não há egoísmo
não há sonhos
que não me caiba.
Sou feita
sob medida
para a necessidade
precisa.
Talhada no gesso
e moldada na madeira.
Não há tempo perdido
nem amor não correspondido.
Durável
amável
fiel
sem
prazo de validade.
Dilemas femininos preenchem meus pensamentos: que roupa terei no armário, as unhas estão por fazer, a depilação não está em dia. Mamãe pergunta semanalmente que dia irei me casar. Preciso mesmo fazer as unhas, penso. Corto legumes e, ao som da faca na tábua, perco-me em mais conjecturas: as contas para pagar, por menores do trabalho, a festa da última semana... Mamãe não sabe, mas pretendo comprar uma bicicleta, tem muita valia no verão.