segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Poema Esfinge


Não reconheço
a minha cara
no espelho
do banheiro
eu que já fui
mais fêmea
talvez louca por inteiro.
Amanheci
só metade do que
dormiu em janeiro.
O fim
dos anus no balaio
de frutas aqui da casa
Causa euforia
pânico
corrida para a calçada.
Quem não dera
ainda pode
oferecer sua parte
sua metade
da maçã
que Eva deixou cair
o pedaço que Adão
bobo
não quis consumir
Como
não sou Adão
Devoro de corpo inteiro.
Sou matéria
de bicho
Do tipo devorador
me decifre
ou se afaste
Meu caminho
é incerto
moro na ponta
do mastro
mas gosto
de olhar de perto.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Poema ligeiro

Aperta peito, aperta.
sufoca o quanto puder.
Esmaga toda a esperança,
explode os balões
que alçariam voos.
Destroços
restaram
de memórias
páginas pingadas
de histórias.
Amarra
prende
sufoca
Borrife tinta
vermelha.
Espalhe rios
pelo chão...
Rasgue
Rasgue
desnude
seu corpo
por todo o espaço
se jogue no mar
da brevidade
depressa
depressa
Corra nua
pela cidade.


segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Poema com cores

Sem denúncia
nem aparente resposta.
Ninguém antes tentara fazê-lo.
Sim.
respondeu com certa alegria.

Branco e preto
seguia a cena.
Estranhamento
e epifania.
Sim, insistiu ainda.

Perdera
o vínculo com a realidade.
Tornando-se
colorido demais.
Não. Respondi em definitivo.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Alguma coisa se quebrou
na linha
ou no carretel
que compõe o tempo.
Quem sabe o próprio tempo tenha
se espatifado.
Garanto que quebrou
talvez a pedra do anel
de vidro
das brincadeiras da infância...
ou quem sabe mesmo o dedo.
Alguma coisa se quebrou...
resta saber o que.

domingo, 4 de novembro de 2012

O poema me bateu na bunda
deu um tapa e saiu
correndo pela rua.

Poema sem tempo


o tempo
penetra nos vagos espaços
perfura a pele, o tempo
desenha curvas tortuosas
nas faces e deixa
escorrer a beleza pelos olhos.
os dedos secam;

de que vale saber do mundo?
o corpo já não suporta
a aventura de viver.

07.06.12 

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Primavera

O velho baú
de boca aberta ao mundo
cuspiu um suspiro de saudade.
A Boneca sem cabeça
perdia as partes aqui e ali.
Calça, sapatos e outras  peças
menos importantes escorriam
pelas abas como baba seca
de manhã.
Pela janela floria a primavera
em suaves tons de roxo e rosa.
Vento fresco e ar puro.
Baú sozinho na varanda
cuspindo saudade.
Bebê estava escrito no cartão
caído no chão.
Tempos que lembram tempo
e de tempo em tempo
enjoava o Baú de vomitar
histórias.



quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Da acidez mais aguda
não se iluda
não provoque
não aguce
não faça troça
Põe a luva
Capa de chuva
bota galocha.
E vem pra festa.


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Pseudo Poema II

Encaixes que
não se encaixam.
Folhas em branco que
não aceitam tinta.
O que restou.
Quebra cabeça
faltando peça.
Mistura ruim de
outras pessoas.
Encaixes tortos
corpos mortos.

Contra
contra
contra.
Nada a meu favor
Objeto de defesa
sem peso.
Testemunhas mortas
advogados presos
nos ônibus
sacolejam.

Grades
pássaros no céu
deslumbre.
Mãos
que não
se encaixam.





terça-feira, 21 de agosto de 2012

Claro enigma, Drummond.
Enigma de meias palavras
palavras de meias pessoas
enigma de dentro pra fora.

Claro Drummond, enigma.
Drummond de meias palavras
Drummond de pessoas inteiras
Drummond de dentro pra fora.

Enigma? Claro, Drummond!
Gosto da palavra final
soa bem aos ouvidos.
É presságio de novidade,
é início ao contrário,
é descanso de trabalho,
conclusão de etapa.
Três letras decisivas
fim.

Pseudo Poema I

Tem razão
a Razão
quando
sem razão
briga com
a Emoção,
esta tola
sem noção.

que venha
todas as mãos
e lacre com 
sulfitão
a veia do coração
que leva força
à emoção.

Com tantas
rimas em "ão"
nenhuma emoção
e muito menos razão
fecho a porta da canção
e jogo a chave no chão.


Ar
Seco
Seco
Seco
as entranhas estão
Secas
boca e pele
Secas
Máquina de produção
artificial
Mala direta no e-mail
Noticiário banal
vida tocada a sorteio
nada mais que o normal
mal
mal
mal
Carro correndo
sem freio
Pés cortados
no sal
Um pouco de
devaneio
Correndo pelo quintal
Vento soprando
no seio
Pássaros voando,
Pombal
de vodca um gole
e meio.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Maus presságios  batem à porta
e ventos secos sopram pelas  ruas.
É chegada a hora
a infinita hora
a estranheza da divisão
e o desapego a todo bem.
Nem todas as palavras
são capazes de dizer
e os gestos não cabem
nesse diálogo.
Só o silêncio,
Necessário,
indispensável.
Um segundo infinito
repassa o filme da vida.
Abraço
Seco e simples
Abraço, um único.
Olhos fixos no chão
e vontade de falar engolida.








quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Romeu, sujeito sisudo
sempre olhando de canto
esgueirando-se pelas paredes.
Romeu, quase um inseto
ligeiro, voraz, invisível.
Invade facilmente os espaços
como a poeira fina e leve.
Sombrio, às vezes, leviano.
Quase sempre ausente do mundo
Cria seu mundo próprio
Uma realidade paralela
muito aquém da Terra.
Sonho, realidade
não sabe mais definir
Romeu sozinho
sentado sob o sol.
Saiu das sombras um instante
e sentiu a pele queimar.
Como o toco do cigarro
queimando os dedos.
Tocou em flores,
enormes árvores amareladas
delicadas, coloridas,
mais que podia suportar.
Romeu voltou às sombras
para os becos, as vielas
trancou-se: cerrou portas
e janelas.





terça-feira, 26 de junho de 2012

Dois fantasmas espreitam pela fresta
 o que se passa comigo
Vejo-os esfolando testa,
 cabeça e umbigo.
Os fantasmas não compreendem
que nada podem fazer
não sei bem o que pretendem
com este brinquedo de esconder.


A dor roubou o tempo
sem o meu consentimento;
Furou minhas pálpebras, as duas.
Segui sangrando pelas ruas.




Se a folha cai da árvore e voa suave ao vento
mais um ciclo de vida se cumpre
Voa livre pelos campos a folha desprendida
de seus vínculos
Em liberdade plena vai ao longe
Se tem a folha que soltar-se da árvore
para nascer um novo ciclo
Pois, que vá, solte-se e voe livre
pelos campos. 

terça-feira, 22 de maio de 2012

A poesia evapora
como evapora o tempo
alguma coisa
joga-se fora
e outras ficam cá dentro.
O poema sozinho
é uma máquina de dor
tortura o pergaminho
até que se deixe compor.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Jogando sal em feridas abertas
só pra sentir o arrepio que dá
Pra depois lamber as rachaduras
e sentir o gosto de sangue
escorregar pela garganta.
Roer as unhas pra não
mais arranhar meu corpo
em agonias noturnas
provocar sensações
de dor pra ver se
pula pra fora
essa ânsia.
esse mau.


segunda-feira, 16 de abril de 2012

Sussurros ao pé do ouvido
ecoam pela sala vazia
Romeu no canto encolhido
balança o corpo em agonia
Menino Romeu assustado
Medo de ter medo do escuro
olhinhos vivos e encharcados
atentos às paredes do muro.
os sons  se aproximam esguios
o corpo do menino estremece
Gemidos, gritos sombrios
Sons desses que nunca se esquece.

sábado, 14 de abril de 2012

Desconheço o meu mundo
Não olhe para trás
viraremos estátuas de sal
Não estique o pescoço
o futuro não nos pertence
somos apenas folhas caídas
ao sabor da correnteza

só importa o que se come
se bebe
e se toca
o mais nada vale.

as indignações deixo aos sociólogos
as indagações aos filósofos
vegetarei no mar da estagnação

não mais me importo com a traição
nem a bondade
nem o perdão
são meras formalidades

apenas um corpo
caminhando pelo mundo
e experimentando as delicias
e os horrores humanos.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Vi o menino Romeu ainda de calças curtas
brincando na areia da praia.
Vi o menino Romeu sorrindo para o sol
aquele sorriso jocoso de quem prevê o futuro.
Vi o menino Romeu brincando na areia da praia
ferramentas nas mãos sob raios vivos de sol.
Vi o menino Romeu como ninguém nunca viu.

sábado, 24 de março de 2012

Mergulhar em Piaf e morrer embriagada de melancolia e dor
Se embriagar de vinho, poesia e nostalgia:
Lembranças de casa
De qualquer casa
de qualquer outra casa
que não a que vivia.

Nada de nada
Não sei de mais nada
Quem eu sou
quem é esse outro que voltou
um outro que não eu
catando as migalhas
de um outro mundo
que nunca foi meu
... e
cacos  de sonhos quebrados
metade de rostos incompletos
segredos não revelados
vibrando em olhos espertos.



terça-feira, 20 de março de 2012

Presa
foi Depressa
pressão
Depreciou
apreçou
pesou
Com
pressão
outra preposição
De
pressão.






Reminiscências
e uma saudade miúda.
De um tempo que não vivi.
Objetos,
móveis
e roupas
velhas.
Tão íntimas:
desconhecidas
e próximas.
Lembranças remotas
da vida
de um alguém
sem rosto.

domingo, 18 de março de 2012

Migalha
enredo de vida velha
sobras de nada.

Ratos
Restos
inundações
de largas planícies...

Regos
Córregos
Carrego
Rompidas asas
Feridas de pássaros
noturnos

No turno
Nada passa ligeiro
Ninguém ama,
Mata ou fere.

Volto aos
ratos
Enrolados
nos rolos de cabelos
no ralo do banho

banho de chuva
nunca mais.
Sem carga
carrega
me encarrega
rega
regra.





quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Passos marcados
de dança saudosa.
Caminhar de costas
rumo ao nada.
Robótica,
dança mecânica:
vida.



quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Nostalgia.
dor que se inicia.
Frágil
Noite fria
pele fria
alma fria.
dócil,
ser doce
não sentir-se
doce.
dor física:
reflexo.
Todo dia,
horas.
Agonia.




quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Juju
Baila pela chuva
afundando os pés
no chão lamacento.
Branca Juju
esvoaçando
entre os pingos.
Encharcada
de lua.



Jubiléia
Dorotéia
Que nomes são esses
chamando num tormento?
Letreiro luminoso
na entrada do bairro
Luzes e,
possível salvação.
Jubiléia?
Doroteia?
Contos de fadas
e vilões.
Historia de amor,
futilidade
Quem são?

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Depositou a mão
no peito e apertou,
mais que podia,
externar o aperto
no peito.
Fingiu não ser nada.

O ponteiro das horas
apertava o tempo
contra a parede.
Fingiu não ser nada

Fingir,
o homem de rosto franzino
não suporta mais fingir.
Fugir
sempre com o cigarro
entre os dedos
pra poder fugir.

Está testando
os limites.
Seu corpo
Seus sentidos
Sua dor.



Do alto,
Sob a névoa,
Olhos vermelhos
espreitando
as coisas,
as casas.
Os amantes
nos becos,
os coitos.
Num ritmo frenético
acende-se
um ponto de luz,
Apaga, acende
apaga...
Romeu na torre
Estremecendo.
Olhos esbugalhados
trepados na torre.
Insônia e ventania.
Sopro de brisa,
Nuvens passantes,
Romeu escureceu.





quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Sabia que não era ideal,
Mas as cadeiras da casa espalhavam-se
preenchendo os espaços.
Vazios enormes abriam-se
dentro de Romeu.
Flores vermelhas no jardim.
Uma ferida aberta na perna
sangrava,
escorria pelo chão.
Sentou-se entre as cadeiras
Não pensou
Apenas fitou a sua dor
de longe.
Sorriu
Desesperadamente
Sorriu
Loucamente.
E o eco de sua voz
Voltava-se contra Romeu.
Rasgando e rasgando
ainda mais
suas chagas.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O lençol felpudo engoliu seu corpo.
E refestelou-se.
As estrelas sob sua cabeça,
o firmamento negro.
O frio,
A chuva.
Desejo e lascívia.
Uma gota de amargura
pingando no chão do quarto.
E um rio inteiro de lembranças
abundando a alma.
Olhos vermelhos
e boca suspensa no ar.
Mil maneiras de sentir vontade
e saliva envenenada
escorrendo por baixo da porta.
Relógios derretidos
e ponteiros paralisados.
E no centro,
por dentro de tudo
Romeu, de dedos trêmulos,
Fumava um charuto,
Fitando a vida como nunca antes.
Saiu sem olhar para trás.
Caminhando pelo corredor 
Ladeado de cores.
Árvores,
Folhas secas revoavam pelo caminho.
Romeu solitário.
Depositou as mãos 
dentro do bolso
E suspirou enfadado.
O caminho cada dia mais longo,
estreitava-se a cada passo.
Já não sentia vontade,
apenas o vento soprando 
em seus cabelos.
Apenas a sombra 
dos troncos gigantescos
que cobriam seu rosto
como monstros mitológicos.
A alma em retiro.
O pensamento vago.
Romeu redemoinhando
entre as folhas amareladas.