quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

E para terminar a madrugada
um trecho de Castro Alves
muito recorrente em meus pensamentos
nos últimos dias:

"Leitor, se não tens desprezo
De vir descer às senzalas,
Trocar tapetes e salas
Por um alcouce cruel,
Que o teu vestido bordado
Vem comigo, mas … cuidado …
Não fique no chão manchado,
No chão do imundo bordel.


Não venhas tu que achas triste
Às vezes a própria festa.
Tu, grande, que nunca ouviste
Senão gemidos da orquestra
Por que despertar tu`alma,
Em sedas adormecida,
Esta excrescência da vida
Que ocultas com tanto esmero?
E o coração – tredo lodo,
Fezes d`ânfora doirada
Negra serpe, que enraivada,
Morde a cauda, morde o dorso
E sangra às vezes piedade,
E sangra às vezes remorso?…


Não venham esses que negam
A esmola ao leproso, ao pobre.
A luva branca do nobre
Oh! senhores, não mancheis…
Os pés lá pisam em lama,
Porém as frontes são puras
Mas vós nas faces impuras
Tendes lodo, e pus nos pés".

Fábulas que não são de Esopo

A cobra sibila pelo
chão de porcelanato.
Exibindo caras jóias
pelo corpo esguio.
E rebola a cobra,
enquanto sibila.
Seu esganiçado silvo
irrita e incomoda.

E a multidão aplaude
e a cobra mais feliz,
produz-se com outras
indumentárias.
E uma multidão de cobras
cegas a seguem.
Todas reboliças e sabidas.
E andam na mesma coreografia
desgastante e cansativa.

E uma multidão de cobras
hipócritas e vazias.
Sorriem, achando graça
daquilo que não entenderam.
E aplaudindo com as mãos
(que nem possuem)
Fazem festas pelos salões.





terça-feira, 20 de dezembro de 2011

C(B)asta


Em noites glamorosas
de plumas e paetês.
Trocas de roupas
e hipocrisia:
No salão dos débeis
culturistas, escorregam
caldas de vestidos.
E babam os dinossauros
(que extintos) insistem em continuar
aparecendo.

Ei-los, vivos e de olhinhos
vibrantes apreciando o bom
alimento cultural.
Que embalsama as nossas almas
eloquentes com vastos conhecimentos.

Venham, venham!
(grita o jornaleiro)
Cultura à vista!
E já se vê uma multidão
de zumbis descendo para
a beira da praia.

O boto(já sem cor)
sussura:
Pulem, pulem,
aqui dentro tem cultura!

Tibum!



   
Quisera um dia
compreender as manhas
da minha alma.
Compreender os caprichos
que me fazem ceder.
E as loucuras que passeiam
todos os segundos do dia
pela minha fronte.

Delicados olhos
e sorriso soberbo.
Piscava com a boca
e sorria com o olhar.
Sem receio, 
Romeu avançou 
para abraçá-la.
Que diria a velha
Censura sobre tudo isso?
Mesmo com indagações,
Romeu seguiu em frente.

Longos braços envolveram-na
E sua respiração 
começou a falhar.
Forte aperto corroeu
as vísceras de Romeu.
Não podia.
Tentou.
Forçou.
mas não podia.

Suas mãos tremulavam
como bandeira no mastro.
E seu coração o mesmo tanto.
Queria.
Mas era incapaz de esquecer.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Mas o tempo deixou passar
deixou as mãos trêmulas
e as pernas frágeis.
Mas a memória
pulsante,
viva.

Não,
o tempo se foi.
Envelhecemos de não
dormir nossas noites perdidas.
Nunca parou de castigar nossas mãos
Não voltaremos ao primeiro dia nem às mesmas sensações.



quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Sufoco.
Sem ar.
Asfixiado
caminhou por alguns instantes
apoiando-se nas paredes,
nos muros,
nos becos.
Romeu havia sufocado.
Preso pelas convenções.
Rígido.
Sozinho.
Perdido.
Continuou sua trôpega
caminhada noturna.
Escorregando.
Perdendo-se.
Fingindo.
A alegria muito antes perdida.
Escorreu pelas frestas dos bueiros.

E...

Romeu sumiu na escuridão do beco.