segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

DEVANEIOS

Entrei de fininho em um 1,99 e comprei uma bola de cristal só pra prever o meu futuro. Antes de chegar em casa ela estourou e virou mil e um estilhaços no meio do caminho.


Entrei numa conveniência, comprei um wisky barato e virei de uma vez só, fiz isso pra tentar melhorar a visão do meu mundo.

E, quando pisei na porta do quarto de dormir, um velho espelho desbotado pendurado na parede falou comigo umas coisas que queria acreditar, mas por ora,p se tornaram impossíveis.

Fiz um grande charuto dos velhos textos de teatro que tenho e fumei de uma vez só, pra ver se melhoro de uma tosse antiga e companheira, mas me entalei com um texto nordestino que sempre gostei e passei a vomitá-lo letra por letra.

O Poeta

O Poeta morreu numa tarde de outubro. Encontraram seu corpo por acaso na margem da lagoa de água turva. Sua insignificante existência extinguia-se ali. Poeta de sonetos de rimas pobres e poemetos menores. Apagou-se o facho de luz da sua vela vermelha. Deixou uma pequena carta de despedida sobre um móvel velho de seu quarto, mas ninguém havia lido seus últimos escritos. Pediu um epitáfio aos amigos, porém não se encontrou ninguém para fazê-lo. No velório do poeta, um caixão negro de arabescos marrons e uma velha senhora de lenço na mão lacrimejava de uma tristeza profunda. 

Descoberta

Não sei o que há ali, logo após virar a esquina,
e acredito que as paredes dos prédios escondem segredos.
Incríveis histórias de pessoas desconhecidas.
Ou desconhecidas histórias de meus raros amigos.

O que vem à frente do capô do meu carro,
além de imagens de pessoas tristes?
Imagens congeladas no meu para-brisa,
cobertas de pontos lumiosos e molhados.

Viro esquinas e dirijo todos os dias
mas ainda não descobri os segredos
guardados entre os bloquetes do meu bairro.