sábado, 15 de abril de 2023

Venho de milhões de anos,

Alma velha, enraizada.

Vivências subterrâneas,

Pedaços de outro tempo.

Parte a parte: montada,

Desmontada, remontada.

Espelho mil almas passadas:

De mãos anciãs enrugadas 

a corpos jovens macios.

Sou tempo...

Flores orvalhadas,

Sou fogo,

Água...

Mares revoltos,

Imensas rochas seculares.

Sou rio doce e ávido

Percorrendo vales.

Estrelas suspensas 

No imenso negrume.

Lua cheia sob o firmamento.

Sou tempo.




terça-feira, 31 de janeiro de 2023

 O infinito retilíneo e duro,

 simples de negritude e poder.

Silencioso, frio, soturno

Madrugada fria, alvorecer.

Olhos negros,

Vivida tez

Cintilam sob a luz 

Do estelar manto lustroso.

As palavras flutuam

De seus pulmões.

Os meus ouvidos inundam

Encharco-me de doces ilusões.

Dominada, subjugada:

Apenas sigo tua voz

Não falo, penso em nada

Sigo desejando meu algoz.






eu, em estado de água

sob um frio olhar preto

em estado de solidez

ou quem sabe solidão

eu, sob seu olhar 

de desprezo e agonia

ali estática, sólida

na sua frente 

de costas para seus olhos

estremecendo no ar

feito vapor ao vento

eu, em estado de água

que já fui fogo em seu corpo

ali apagada aos teus pés.


domingo, 25 de setembro de 2022

 Me partiu em tantas partes

Seu abraço delirante

Se seguiu de uma noite

De frieza ignorante.

Feriu meu ego e pele

O cantinho ali da alma.

As partes mais protegidas

Que mantinham minha calma.

Sorrateiro foi chegando

Se alojou em meu prazer,

Se vestiu de ovelhinha

Destruiu o meu querer.

Não me sinto mais inteira

Nem tampouco alegria

O que era brincadeira

Revelou ser fantasia.

Só que daqui pra frente

Prometo a meu coração 

Que não olho, nem sustento

Amor por esse vacilão.

Meu corpo será uma pedra,

Minha alma uma geleira,

Que não derrete nem quebra.

Acabou-se a brincadeira!





terça-feira, 21 de junho de 2022

 As cartas de amor que escrevi,

as que guardei em cofrinhos secretos,

as que criei embaixo do chuveiro e

nunca transferi ao papel.

As cartas de puro amor que recebi,

de palavras eloquentes e juras febris.

As cartas de amor que queimei,

sem nunca enviar,

as que li e reli de olhos úmidos.

As que pressionei entre falanges,

causando castigo às palavras inocentes

que escorriam entre os dedos.

São a medida da alma,

as palavras são como a espuma que escorre

no banho, brumosa e límpida 

espiral rumo ao ralo.

O que importa se não as escrevi?

ou se não as enviei?

ou se as camuflei em poemas dispersos?

Me importa é sentir: que sou feita de pele,

osso e carne trêmula!

Movida a sonhos e talhada em desejo.





quinta-feira, 26 de maio de 2022

Há dores que o tempo não cura.

Lembranças marcadas a ferro,

Na pele e nos ossos encrustadas,

Tristezas tão profundas,

Criando ecos e reverberando 

Em cada canto da alma.

Há gritos amarrados atrás da língua,

Sufocados por palavras mortas,

Que saem automáticas pelos lábios secos.

Nem dor, nem prazer, 

Só um corpo se arrastando

Com alma dissecada pelas vielas escuras.







quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Sinto saudade das folhas caídas

do seco e bom de pisar.

Sinto vontade da vida

da chuva em gota a molhar.

Do livre e repleto de cheiro

som ventilado do ar.

Do carinhoso beijo inteiro

na face o lábio roçar.



domingo, 9 de janeiro de 2022

Um olho no futuro
outro olho no passado
rosto sem olho
mãos trêmulas.

              dedos em riste
              unhas roídas
              pele enrugada
              carne trêmula.

                         quedas, desabafos,
                         solidão, mágoas
                         migalhas, medo
                         inércia, loucura.


segunda-feira, 20 de setembro de 2021

 Sopro


Ar que sai pela boca.

Um folgo,

pronto, acabou!

Era vida pela manhã,

a tarde, restou o corpo.

Uma pena 

voando pelo céu

acompanhando o vento.

Centelha de ar,

Restou o mundo.

Amanhã tudo estará igual.

A vida: sopro,

vento que passou,

saracoteou nas saias das moças,

e se foi!

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Canto noturno

Sinto dores terríveis nas costas

E, periodicamente, na alma.

Não é dorzinha de fácil cura

É dor intensa, sem trégua ou calma.

É, sobretudo, da carne tortura.

Essa dor não cabe cá dentro,

Ela ecoa, voa com o vento,

Alcança limites e fronteiras

Corre montes, vales, cordilheiras.

Há tempos, ensaio um canto

Para acalmar as noites de pranto.

Que eu mesma me embalo

Noite adentro, no silêncio ressoa

O sons da minha voz num badalo

Que reticente cântico na madrugada entoa.


quinta-feira, 3 de junho de 2021

Tempo é bagagem,

pesado fardo 

no leve arrastar de chinelos.



Mãe d'água

Mãe d'água, líquida parideira,

nascente das nascentes.

Seus filhos escorrem entre valeiras,

quedam em pedras, formam cachoeiras,

rio, riacho, córrego, ribeira...

Vilhena, mãe d´água, cabeceira.

No Barão do Melgaço, o Comemoração, 

tesouros milenares descobriu Rondon,

as minas, aquelas do Urucumacuã.

Mãe d´água, paisagem do cerrado,

os filhos escorrem entre pedras:

o Roosevelt, o rio da Dúvida,

traz histórias em suas águas.

Tantos, tantos são seus filhos,

nem todos sadios e limpos,

mas persistentes ao jugo humano,

Pires de Sá, o filho urbano ,

vestido pelo progresso em tristes trajes,

das puras águas, restam lixos nas margens.

E outros tantos que ainda brilham

sob a luz do sol, em largo espelho,

meneando a terra, o Rio Vermelho.

Caudaloso e sem trégua,

no Mato Grosso, o Iquê deságua.

Ávila, Apediá, Cabixi, Piracolino...

Filhos dos Parecis, 

nascidos em leito genuíno.


Publicado na Antologia Vilhena: entre encantos e verso. 2º lugar no Concurso "Conhecer Vilhena" organizado pelo Instituto Federal de Rondônia em 2020.







sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Amor?
Sabe-se lá o que significa.
Não  há  mais espaço pra amar
no mundo moderno.
Amor, prateleira
com corpos a disposição
para escolha e deleite.
Amar, ilusão passageira.
Cada um é um universo
de segredos e desejos
não  ditos.
Os homens são frios,
As mulheres de plástico,
E as paredes sensíveis.
Moderno é  ter mil possibilidades
E nenhuma, no mesmo segundo.
Ultimamente me pergunto:
O que estamos fazendo?
Para que serve esse corpo vivo?
Qual o propósito dessa vida?
Em tempos difíceis
De descrença, solidão e maldade.
Para que serve estar viva?!
Movendo nossos passos pelos caminhos:
Acordando, dormindo, acordando...
Mecanicamente,
A vida segue seu rumo.
Poesia, alivia a dúvida ou
Piora as dores?
E o mundo?  Torna-se leve
Ou ainda mais cruel?

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Sentir a cada instante
Um suspiro,
Um Gesto.
O cheiro amante,
O palpitar da pele.
Suave hábito.
Respiro ofegante,
O olhar que revele.
Meus olhos denunciam
Os desejos na alma
A mão, suave toca
Por fim, é calma.

terça-feira, 21 de maio de 2019

Tempo de ostentar
Alegria para os outros.
De felicidade em fotos
De sorriso desenhado
E carinha feliz
Para mascarar a tristeza.
É proibido não  ser feliz!
Fatos importante da tarde vazia
Atualização da xícara de café
E da tarde gourmet.
Página fútil organizada
Em esquema de cores.
Cartaz de "sou feliz"
Colado nas costas
Para o desfile do feed.
Algodão e água para tirar
A maquiagem da rede social.





As tardes são pálidas
E o rio corre mais fluido.
Ventos gélidos  cortam e
Esvoaçantes fios se enlaçam.
Há punhais fincados,
 as costas sangram.
Correm longas correntes
De sangue rubro pelo chão.
Há vida após os trinta?
O medo existe
E não é  tão generoso
Quanto a dor.
Há luz,
Mas não nesse corpo.
Há dores,
Caos,
Sólidas  camadas.
Há música,
Sempre de se partir ao meio.
Há riscos,
Nãos e sins
Sem proporção.
Existo,
Mesmo sem desejar.
Não há.

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Aquele teu cheiro
faz um reboliço:
inunda, corpo inteiro,
tornou-se vício.
O sal de tua pele,
De pretas marcas...
A tua voz me impele
A loucuras fartas.
Aquele teu olhar
De perdição,
Em perpendicular
Me rendo, é chão.




quarta-feira, 3 de abril de 2019

Cá dentro
Treme o verso
Sintomático
Verso brusco
Estéril, volátil
Bóia no ar
Dos pulmões:
triangular
Som de porões.
É sopro
Entre falas
Mar revolto
Em calcárias
É verso
Nem reverso
Tampouco anverso
É verso!

sexta-feira, 29 de março de 2019

Bateu à porta,
Era Madrugada e meia
Romeu sisudo,
Abriu de um sorriso,
Amarelo,
Quase combinou com os olhos.
Chegou mansinho
De membro em riste
Partiu meu sorriso
Ao meio:
Meia hora de abuso,
Humilhação constante.
Levantou,
Pavoneou sua calda
Pelo quarto.
Saiu sem dizer palavra.
Romeu engoliu,
Abruptamente,
Minha Dignidade.