domingo, 16 de outubro de 2011

A guerra quer matar o poeta
com sua lança primitiva.
Secou o coração do poeta
Bombardeou suas palavras.
Mas o poeta não morre,
Vira rocha.
É cedo.
É ainda muito cedo
pra entristecer.
A alvorada é recente
Mas o calor da aurora
esfria somente.

É cedo
e mais seguro
que afaste-me do perigo.
Que fuja por entre vales
pelos riachos
por mares.

Antes da hora temida
antes da noite sombria
o orvalho desce frio
sobre as pétalas caídas.
Mantenha a cama vazia
e o lençol mais macio.
Voraz
espalhou todos os papéis
que havia sobre a mesa.
Enfiava a mão em seus cabelos cheios
e tufos caiam pelo chão.
Romeu perdera a serenidade.
O cigarro entre os dedos trêmulos
choro sufocado
entre nariz e olhos.
Olhos de fera
Todo o sangue do corpo
se depositara ali.
Romeu perdera a serenidade.



Sinto-me como Midas:
Que em tudo que toca
Reluz
Midas, teu dom foste
tua verdadeira desgraça!

É cinza, pó e vaidade.
O toque dos dedos suaves.
É veneno
Pecado.


Jardim


    Apontava, na entrada do portão, uma flor amarela. Timidamente, nascia com suas pétalas invasoras. O homenzinho de macacão sujo e esverdeado, caminhava com sua espátula sempre em punho, quando parou diante do portão. Observou por um instante aquela amostra de uma teimosia insistente. Outra vez, lá estava, com suas pequenas pétalas brotando do chão.
O homenzinho abriu um sorriso curto: “aí está você de novo”, pensou. Abaixou-se. Meteu sua espátula em volta da planta e arrancou-a pela raiz. Tomou seu frágil caule envolto em um montinho de terra e enquanto apertava-a, entre seus dedos, foi caminhando. Aqueles dedos grossos cheios de marcas do trabalho. Mãos pequenas e castigadas. Precisas.
Largou-a num canto. E colocou-se a cavar. Enfiava a espátula na terra e arrancava montes e montes e com as mãos ia ajeitando a cova. Tomou a flor mais uma vez em suas mãos, depositou-a lá dentro. Cobriu-a com uma grande quantidade de terra. Chacoalhou um punhado de água sobre ela e saiu. Assoviando, deslizou passo a passo pelo corredor tocando as pernas sujas do macacão em centenas de pétalas que se seguiam por todo o jardim, insistentemente.    

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Na esquina,
Parado
Encostado no muro
Sozinho com suas lembranças,
Romeu enganava a dor.
Com um copo de Wisky,
Esquetando o frio
De seu olhar.
Sem esperança alguma de sonhar.
Deitou suas lembranças no muro acinzentado
E foi pela rua deserta.
Os sentimentos estão mortos
Vítimas de um crime passional.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Gládio

Noite sombria de primavera fria
Espectros no lodo se enlaçam
Remexendo de sonhos os musgos milenares.
Desfigurados monstros apodrecem na folhagem
E revivem a dor que os aprisionou.
Nada possuem se não os restos,
Montanhas de lama e escuridão
E, no limo, vão  retorcendo-se em gestos
Que dizem da alma a perdição.
E a luz que guia todo pensamento
Na negra escuridão mostrou sua face
E as estrelas e os astros de encantamento
Curvaram os olhos para que passasse.
Negrume e luz de gládio cruel,
O lume em perigo de morte.
A treva movendo seu pincel,
fumaçando o brilho, retalhado em cortes.
Engolindo com furor os lumes
Convidando a claridade à treva
A luz fugindo do negrume
Declamando com voz que se eleva.