domingo, 16 de outubro de 2011

Jardim


    Apontava, na entrada do portão, uma flor amarela. Timidamente, nascia com suas pétalas invasoras. O homenzinho de macacão sujo e esverdeado, caminhava com sua espátula sempre em punho, quando parou diante do portão. Observou por um instante aquela amostra de uma teimosia insistente. Outra vez, lá estava, com suas pequenas pétalas brotando do chão.
O homenzinho abriu um sorriso curto: “aí está você de novo”, pensou. Abaixou-se. Meteu sua espátula em volta da planta e arrancou-a pela raiz. Tomou seu frágil caule envolto em um montinho de terra e enquanto apertava-a, entre seus dedos, foi caminhando. Aqueles dedos grossos cheios de marcas do trabalho. Mãos pequenas e castigadas. Precisas.
Largou-a num canto. E colocou-se a cavar. Enfiava a espátula na terra e arrancava montes e montes e com as mãos ia ajeitando a cova. Tomou a flor mais uma vez em suas mãos, depositou-a lá dentro. Cobriu-a com uma grande quantidade de terra. Chacoalhou um punhado de água sobre ela e saiu. Assoviando, deslizou passo a passo pelo corredor tocando as pernas sujas do macacão em centenas de pétalas que se seguiam por todo o jardim, insistentemente.    

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