segunda-feira, 25 de março de 2013

Tango
maldito
que maltrata,
mata,
mistura
o suor
e a saliva.
Arranha:
ardência
e prazer.
Tango
infame,
impuro,
deliciosamente
libertino.
Tango
maldito,
bendita
seja
a mão
que
te compôs.


domingo, 24 de março de 2013

Tamborilam
do lado de fora
meia dúzias de
gotas sinceras
que caem aos poucos
nas gigantescas
folhas plantadas
à janela.
Som invasor
que atrapalha
o silêncio...
Única nota
de alegria
permitida
no crepuscular
domingo cinzento.



quarta-feira, 20 de março de 2013

Sepulcral
silêncio inundou-me
silencio de quem
morre um pouco.
Meia colher de sal
amarga a minha boca
porção de veneno
diário
monetário
otário.
Junta-se tudo
na panela de barro
passa um laço
de fita vermelha
acrescenta-se
duas orelhas
e um chumaço
de unhas.
Faremos todos
uma porção
de amargura
para obter a cura
da nossa
total
falência.

terça-feira, 19 de março de 2013

Estrelas azuis
posaram no meu quintal
vestidas de luz,
com auréola angelical.
Fizeram festa
pra me sussurrar
bem depressa
Segredos guardado há mil sóis:
"que todo brinquedo
feito sob os lençóis
eram apenas enredo".





quinta-feira, 14 de março de 2013

"Estou juntando meus cacos espalhados pelos cômodos,
minúsculas partes de mim que se misturam com a poeira
passar cola ou durex e fazer remendo bom, há sempre
um jeito de fazer cicatrizar" 
Penetra pelas frestas
de meus olhos
uma insistente luz
sólida, translúcida.
Claramente
convida-me,
mas eu não quero
segui-la.
Não insista,
o destino
já traçou
obscuros caminhos.
Trancou as portas
da alegria
e diluiu meus sonhos
em ácido.
Esqueça
essa bobagem
tomemos mais
um gole
e brindemos
à noite longa,
à insônia.


Rendo-me
à companhia perfeita:
fino, frio,
mas quente por dentro.
Os dedos entrelaçam
sua anatomia fina
a presença
que não
se vai
a companhia
que não abandona
não decepciona
não sai.

terça-feira, 12 de março de 2013

O mundo bonito
está quebrado
em mil cacos
de barro.
A vida boa
evapora
na fumaça
do cigarro.
A felicidade certa
errou
e sumiu num beco.
A mochila
está pronta:
uma foto,
um lápis
e um caderninho
de anotações.
Partindo sem
explicações
ou sinais.
Rumo incerto
e improvável
retorno.
Sem rumo
ou ideia
alguma
desço a ladeira
coberta de pedras.
Carrego um
rochedo
maior
preso
nas costas
e outro na
alma.

terça-feira, 5 de março de 2013

Poema sincero

Ouço o riso
fácil do louco
Os gritos
sinceros
das celas.
A beleza
da verdade
furando o ar.
Antes a verdade
do desvairado,
a dura
verdade
que a loucura
imprime.
Que as sinceras
mentiras
contadas
embaixo dos
lençóis.
Suas mãos fogem
escondem-se
nos bolsos
Como seus olhos
correm:
nos outros olhares
nos outros bustos
nas outras ancas.
Apunhalando
de frente
os meus brios
fazendo-me
rubra
tresloucada
infame
monstruosamente
emulada.