segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Poema para a IN-felicidade

eu fiquei IN-Feliz.
eu stou IN-Feliz.
eu sou IN-Feliz.
eu permaneço IN-feliz.
eu ando IN-feliz.

terça-feira, 13 de julho de 2010

VISITA

Em uma manhã como outra qualquer
acordei com os olhos trancados de secreção,
devido a intensa febre noturna.
Quando consegui destapar os olhos,
na porta do quarto me aguardava uma imagem
de fumaça cinza, com ar angelical e infantil.
Não pronunciou uma letra sequer,
apenas me apontava o caminho do quintal.
Por  um instante senti receio em aceitar o convite,
mas mesmo assim, sedi a minha curiosidade.
De pijama, fui para fora.
E a ilustre visita sumiu entre as grandes árvores.
Saí meio acordada, meio sonâmbula
entre as mangueiras.
E, ao longe, ele me chamava com gestos,
e sempre que me aproximava,
a figura desaparecia.
não calculei o tempo que durou o jogo.
A imagem, não sei onde se escondeu,
talves, na infância, atrás de uma árvore grande de mangueira.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

LEMBRANÇA DE INFÂNCIA

Lembranças velhas de infância bateram hoje à porta.
E trouxeram a imagem da moça do guarda chuva bordado.
Uma branca moça de vestido a moda século dezoito.
Imagem branca, quase fantasmagórica.
que de seu guarda chuva em punho,
olha fixamente para o infinito.
De cima da velha mesa da cozinha
e, já com um pedaço da base roída,
pelo tempo ou pelas quedas,
olha e observa, infinitamente.
Onde andará seu pensamento?
Será que tem alguma história secreta
guardada nas anáguas de seu vestido?
Quem será esta moça do guarda chuva bordado?
De certo tinha algum segredo a contar,
mas sua boca de plástico nunca se abriu.
Somente o seu olhar, infinito e sombriu
ficou guardado na memória, entre os velhos
brinquedos sujos de terra.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

A dureza dos segundos

a voz não saia por mais que forçasse
assim, por algum tempo ficou
de olhos grudados nos meus
esperando uma resposta.
mas, saí sem conseguir articular nada
sem nem ao menos mecher os olhos
saí e fui andando sem rumo
me perdi entre os faróis.
e dura caminhei pelos bloquetes
pisando sem rumo nas esquinas
e fiquei assim madrugada a dentro.
não me pergunte por que,
não sei motivo desta letargia.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Familiar

Descobri velhos segredos familiares
em simples conversas de cozinha.
A linguagem solta e natural de minha mãe
Contando, entre risos e gestos, a vida
passada.
Coisas que nunca vivi,
Histórias que fizeram
o que hoje sou.
Simplicidade e devaneios
de uma família nada normal.
Com cheiro e sabor
de cozinha baiana.

Diálogo poético

A poesia tocou-me nos ombros
uma noite dessas.
Disse que precisava desabafar.
Contou segredos de sua vida:
assuntos íntimos e cruéis.
Estática, mal piscava os olhos
e viajei por milhões de palavras
e outros milhões de anos.
Por horas seguidas escutei...

Um longo período de silêncio
veio depois...
E, mudas, apreciamos
as marcas de idade
uma da outra.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

DEVANEIOS

Entrei de fininho em um 1,99 e comprei uma bola de cristal só pra prever o meu futuro. Antes de chegar em casa ela estourou e virou mil e um estilhaços no meio do caminho.


Entrei numa conveniência, comprei um wisky barato e virei de uma vez só, fiz isso pra tentar melhorar a visão do meu mundo.

E, quando pisei na porta do quarto de dormir, um velho espelho desbotado pendurado na parede falou comigo umas coisas que queria acreditar, mas por ora,p se tornaram impossíveis.

Fiz um grande charuto dos velhos textos de teatro que tenho e fumei de uma vez só, pra ver se melhoro de uma tosse antiga e companheira, mas me entalei com um texto nordestino que sempre gostei e passei a vomitá-lo letra por letra.

O Poeta

O Poeta morreu numa tarde de outubro. Encontraram seu corpo por acaso na margem da lagoa de água turva. Sua insignificante existência extinguia-se ali. Poeta de sonetos de rimas pobres e poemetos menores. Apagou-se o facho de luz da sua vela vermelha. Deixou uma pequena carta de despedida sobre um móvel velho de seu quarto, mas ninguém havia lido seus últimos escritos. Pediu um epitáfio aos amigos, porém não se encontrou ninguém para fazê-lo. No velório do poeta, um caixão negro de arabescos marrons e uma velha senhora de lenço na mão lacrimejava de uma tristeza profunda. 

Descoberta

Não sei o que há ali, logo após virar a esquina,
e acredito que as paredes dos prédios escondem segredos.
Incríveis histórias de pessoas desconhecidas.
Ou desconhecidas histórias de meus raros amigos.

O que vem à frente do capô do meu carro,
além de imagens de pessoas tristes?
Imagens congeladas no meu para-brisa,
cobertas de pontos lumiosos e molhados.

Viro esquinas e dirijo todos os dias
mas ainda não descobri os segredos
guardados entre os bloquetes do meu bairro.