segunda-feira, 26 de setembro de 2011

CULINÁRIA

Ameaço pular de cima
do muro da minha casa,
mas ninguém me vê!
Ateio fogo em meu cabelo,
e fico careca de dor!
Uma poção de horror,
uma pitada de desamor,
meia xícara de angústia,
e uma medida e meia de solidão!
Uma receita perfeita
para assar no forno gelado
o bolo-mofo da vida!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O poema não quer ser decifrado.
Deixa-o em paz.
Não faça conjecturas e insinuações.
Não deduza.
Não torture o signo.
Nada pode ser tirado dele,
que não o prazer de lê-lo.
O poema está lá,
só e estático na folha.
Deixa-o repousar
sobre a superfície
dos pensamentos.
Tranquilo e sereno.
Não o julgue.
Não decifres o poema.
Leia-o apenas.
Sem intensões ou
lembranças conexas.
O poema nada pede,
Nada deseja.
O poema quer apenas ser lido.




Poemas da Boca Pra Fora por Núbia Rodrigues e Valdete Sousa

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Por trás daquele sorriso havia uma máscara negra.
Sob olhos infantis e lábios convidativos,
Negros espectros saindo como larvas.

Um outro ser que nunca se mostrara
surgiu, voluptuoso e gentil,
oferecendo o inferno
à primeira mão que o tocara.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Janelas enormes se abriam para a luz
Que entrava feroz feito punhais nos olhos de Romeu.
Sombrios olhos de quem oculta segredos
Na escuridão dos salões da casa.
Colado na cadeira de balanço da avó,
Fumando, lentamente, meia dúzia de palavras
mortas na saliva.
Sua boca de cofre ignorou meus pedidos
e não denunciou nada.
Tasquei-lhe um beijo sugado
que barulhou pelos cômodos vazios...
Fiz chacoalhar a velha cadeira de balanço
até você se perder...
Fiz apagar o cigarro de palavras mortas.
Nada mais interessa.
Apenas ouço o som dos suspiros
abafados pelas mãos.
Do ranger interminável da cadeira.
E de seus monossílabos em meus ouvidos.

  

terça-feira, 6 de setembro de 2011

...e assim por horas seguidas
passei a imaginar;
se o tempo parasse,
se o dia nunca terminasse,
se a vida mudasse.
Mas, nunca parou.
Nunca parou...

domingo, 4 de setembro de 2011

Piercing

Zeca Baleiro


"Quando o homem inventou a roda
logo Deus inventou o freio,
um dia, um feio inventou a moda,
e toda roda amou o feio"

Tire o seu piercing do caminho
Que eu quero passar
Quero passar com a minha dor.
Pra elevar minhas idéias não preciso de incenso
Eu existo porque penso
tenso por isso existo
São sete as chagas de cristo
São muitos os meus pecados
Satanás condecorado
na tv tem um programa
Nunca mais a velha chama
Nunca mais o céu do lado
Disneylândia eldorado
Vamos nós dançar na lama
Bye bye adeus Gene Kelly
Como santo me revele
como sinto como passo
Carne viva atrás da pele
aqui vive-se à míngua
Não tenho papas na língua
Não trago padres na alma
Minha pátria é minha íngua
Me conheço como a palma
da platéia calorosa
Eu vi o calo na rosa
eu vi a ferida aberta
Eu tenho a palavra certa
pra doutor não reclamar
Mas a minha mente boquiaberta
Precisa mesmo deserta
Aprender aprender a soletrar
Tire o seu piercing do caminho
Que eu quero passar
Quero passar com a minha dor.

Não me diga que me ama
Não me queira não me afague
Sentimento pegue e pague
emoção compre em tablete
Mastigue como chiclete
jogue fora na sarjeta
Compre um lote do futuro
cheque para trinta dias
Nosso plano de seguro
cobre a sua carência
Eu perdi o paraíso
mas ganhei inteligência
Demência, felicidade,
propriedade privada
Não se prive não se prove
Dont't tell me peace and love
Tome logo um engov
pra curar sua ressaca
Da modernidade essa armadilha
Matilha de cães raivosos e assustados
O presente não devolve o troco do passado
Sofrimento não é amargura
Tristeza não é pecado
Lugar de ser feliz não é supermercado
Tire o seu piercing do caminho
Que eu quero passar
Quero passar com a minha dor.

O inferno é escuro
não tem água encanada
Não tem porta não tem muro
Não tem porteiro na entrada
E o céu será divino
confortável condomínio
Com anjos cantando hosanas
nas alturas nas alturas
Onde tudo é nobre
e tudo tem nome
Onde os cães só latem
Pra enxotar a fome
Todo mundo quer quer
Quer subir na vida
Se subir ladeira espere a descida
Se na hora "h"o elevador parar
No vigésimo quinto andar
der aquele enguiço
Sempre vai haver uma escada de serviço
Tire o seu piercing do caminho
Que eu quero passar
Quero passar com a minha dor.

Todo mundo sabe tudo todo mundo fala
Mas a língua do mudo ninguém quer estudá-la
Quem não quer suar camisa não carrega mala
Revólver que ninguém usa não dispara bala
Casa grande faz fuxico quem leva fama é a senzala
Pra chegar na minha cama tem que passar pela sala
Quem não sabe dá bandeira quem sabe que sabia cala
Liga aí porta-bandeira não é mestre-sala
E não se fala mais nisso
Mas nisso não se fala
E não se fala mais nisso
Mas nisso não se fala
E não se fala mais nisso
Mas nisso não se fala
E não se fala mais nisso
Mas nisso não se fala
Tire o seu piercing do caminho
Que eu quero passar
Quero passar com a minha dor.

sábado, 3 de setembro de 2011

Romeu falava em disparada
não só com a boca,
mas, também com os olhos.
Entristeceu de repente.
Seus olhos serraram-se.
Vi suas pálpebras murcharem,
Vi as lágrimas surgindo,
Vi a luta entre deixar correr o líquido
e sufocá-lo, sufocá-lo...
Disfarçadamente, sorriu.
Riso amarelo,
riso indesejado.
Não, não quero.
Desejei fugir para longe.
Desejei nunca tê-lo conhecido.
Desejei afagá-lo,
Confortar sua dor.
Mas não pude.
Não me deixou entrar, Romeu...
Entrar em seus pensamentos.
Serrou a porta de sua vida.
Sai sem olhar para trás.
Com um pedaço a menos no corpo.
E uma enorme dor a mais.
Romeu, ah, Romeu!
Não tenho a chave.

Dor, dor e dor.
Um pouco mais de dor.
E pronto.
Fechou a porta
Sufoco, sufoco e...
sem ar.
Morto, morto.
Menos vida.
Mais dor.
Sangue congelado.
Àgua nas veias.
Álcool na alma.
Parou.
Paralisou os membros.
Morto, morto.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Romeu não disse que estava brincando.
Não disse que não se envolveria.
Olhou-me nos olhos bem fundo...
No fundo do olhar de Romeu
Nada decifrei, nada pude desvendar
dos seus mistérios.
Fui devorada!
Não disse para não desmanchar
em suas mãos, em seu toque.
A ilusão entrou pela janela do meu quarto
e se alojou entre meus lençóís.
Romeu nada disse.