segunda-feira, 29 de setembro de 2008

As Metamorfoses do Vampiro (Charles Baudelaire)




















E no entanto a mulher, com lábios de
framboesa
Coleando qual serpente ao pé da lenha acesa,
E o seio a comprimir sob o aço do
espartilho,Dizia, a voz imersa em bálsamo e tomilho:
- "A boca úmida eu tenho e trago em mim a ciência

De no fundo de um leito afogar a
consciência.
As lágrimas eu seco em meios seios
triunfantes,
E os velhos faço rir com o riso dos infantes.
Sou como, a quem me vê sem véus a
imagem nua,
As estrelas, o sol, o firmamento e a lua!
Tão douta na volúpia eu sou, queridos
sábios,
Quando um homem sufoco à borda de
meus lábios,
Ou quando os seio oferto ao dente que o mordisca,
Ingênua ou libertina, apática ou arisca,
Que sobre tais coxins macios e olventes
Perder-se-iam por mim os anjos impotentes!"

Quando após me sugar dos ossos a medula,
Para ela me voltei já lânguido e sem gula
À procura de um beijo, uma outra eu vi então
Em cujo ventre o pus se unia à podridão!
Os dois olhos fechei em trêmula agonia,
E ao reabri-los depois, à plena luz do dia,
Ao meu lado, em lugar do manequim altivo,
No qual julguei ter visto a cor do sangue vivo,
Pendiam do esqueleto uns farrapos oeirentos,
Cujo grito lembrava a voz dos cata-ventos
Ou de uma tabuleta à ponta de uma lança,
Que nas noites de inverno ao vento se balança

 .