E no entanto a mulher, com lábios de
framboesaColeando qual serpente ao pé da lenha acesa,E o seio a comprimir sob o aço do
espartilho,Dizia, a voz imersa em bálsamo e tomilho:- "A boca úmida eu tenho e trago em mim a ciênciaDe no fundo de um leito afogar a
consciência.As lágrimas eu seco em meios seios
triunfantes,E os velhos faço rir com o riso dos infantes.Sou como, a quem me vê sem véus a
imagem nua,As estrelas, o sol, o firmamento e a lua!Tão douta na volúpia eu sou, queridos
sábios,Quando um homem sufoco à borda de
meus lábios,Ou quando os seio oferto ao dente que o mordisca,Ingênua ou libertina, apática ou arisca,Que sobre tais coxins macios e olventesPerder-se-iam por mim os anjos impotentes!"Quando após me sugar dos ossos a medula,Para ela me voltei já lânguido e sem gulaÀ procura de um beijo, uma outra eu vi entãoEm cujo ventre o pus se unia à podridão!Os dois olhos fechei em trêmula agonia,E ao reabri-los depois, à plena luz do dia,Ao meu lado, em lugar do manequim altivo,No qual julguei ter visto a cor do sangue vivo,Pendiam do esqueleto uns farrapos oeirentos,Cujo grito lembrava a voz dos cata-ventosOu de uma tabuleta à ponta de uma lança,Que nas noites de inverno ao vento se balança.
"Amanheceu um naco de poesia em meu travesseiro rolando molemente em meu colchão. Sem preocupação de tempo, espaço, rima"
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
As Metamorfoses do Vampiro (Charles Baudelaire)
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