As cartas de amor que escrevi,
as que guardei em cofrinhos secretos,
as que criei embaixo do chuveiro e
nunca transferi ao papel.
As cartas de puro amor que recebi,
de palavras eloquentes e juras febris.
As cartas de amor que queimei
sem nunca enviar,
as que li e reli de olhos úmidos.
As que pressionei entre falanges,
causando castigo às palavras inocentes
que escorriam entre os dedos.
São a medida da alma,
as palavras são como a espuma que escorre
no banho, brumosa e límpida,
espiral rumo ao ralo.
O que importa se não as escrevi?
Ou se não as enviei?
Ou se as camuflei em poemas dispersos?
Importa a mim sentir:
que sou feita de pele,
osso e carne trêmula!
Movida a sonhos e talhada em desejos.