segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Sorriu
Pela primeira vez
Romeu sorriu.
Riso enferrujado
De fumante antigo.
Irônico e incomunicável,
Sorriu.
Às gargalhadas, explodiu
Sua dor.
Riu, compulsivamente,
Até tornar-se pranto.
Depois, calou-se
Na penumbra, cruzou os braços.
Sacou seu isqueiro
E de longe
Avistava-se o Vagalume,
Em sua boca,
Acender e apagar-se
Infinitamente.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Na estranheza da noite,
o cheio acre de seu hálito,
perfura o ar.
A ofegante respiração
De fumante incurável
Ensurdece a vizinhança.
Romeu desfila sua dor.
Mais ávida que ontem...
Fria e altiva,
Perfura seus órgãos,
Essa companheira atroz
de horas infindas e
Perturbações viscerais.
Passos pesados
Perfurando as vielas.
Romeu voltou ao meu portão.




quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Dispa-se das máscaras que te aprisionam
Desprenda-se, lentamente, das amarras.
Apenas invenções modernas.
Normal é ser livre
Tudo mais é prisão.


segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Matinal

As cores desses dois sóis
ofuscando os raios da manhã.
Teus pés saindo dos lençóis
em busca de um toque afã.
Quente ou fria tua doce seiva
macia circulando o pomo,
entreaberta coxa, visão de dádiva
arrepios longos, átomo a átomo.



quarta-feira, 21 de junho de 2017

Sobre a mesa
cacos perigosos se iluminam
Estilhaços em ameaça contínua.
Romeu fitou-me os olhos
Com olhar cansado.
Romeu jogador,
Forjando fragilidade inexistente.
Romeu fingidor,
Jogando perigosas partidas de amor.
Mentes como quem escova os dentes.

Vivo num poema de Drummond:
Às vezes, triste
Seguido por um niilismo bom,
Às vezes, sexy.
Raramente fala de amor
Um eterno jogo de Quadrilha
Aquele toque de humor
Sempre acaba em armadilha
fecho os olhos, paciente,
o livro e sigo resiliente.


segunda-feira, 12 de junho de 2017

Noite fria
O Vinho  esquenta a alma.
Estragando o fígado
Para salvar o coração.
A solidão é lobo
Que salta dos olhos.
Sangro,
Com ferida aberta
Anos e anos.
Fitas vermelhas escorrem
Pelos músculos,
Em sintonia com a pele.
Sangro,
Desde sempre.
Hemorragia de alma.
Sangue e saliva escorrem
Parte a parte
Rumo ao ralo.


terça-feira, 9 de maio de 2017

Despedaçado está, parte a parte
Em mil estilhaços rompidos.
Sorriu, ainda que tarde
Riso, cantos de boca cuspidos.
Está pesado.
Em alma e flor
Cada fio despedaçado
Cada parte da cor.
De olhos fechados
Despenco na ladeira
Caí, levantei, vez derradeira.
É dor.


segunda-feira, 24 de abril de 2017

Quem me dera
ter os dias cheios
do teu sorriso.
E as noites umedecidas
em teus cheiros.


Uma hora fitando o cursor piscar
dedos imobilizados diante das letras
a palavra presa em algum ponto do corpo.
Mais cedo passou por aqui
pensamento antigo,
ideias ruins
que a cidade incita.
Há palavras espalhadas
confundindo a lógica.
Horas anteriores
mal conseguia conter meus olhos
gulosos percorrendo seus contornos.
Conter, o verbo que mais martela em
meus pensamentos: minhas mãos,
meus desejos, meus impulsos.







O toque suave de seus olhos,
o conforto mais efêmero
que meu corpo sentiu,
Sutis, lábios de carmim
molhando o meu sorriso.
A doçura, que pensei perdida,
em cores e sabor.
Quase turquesa no olhar:
Joia exótica, diamante bruto.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Em dúvida:
Se o vinho esquenta ou resfria o coração.
Cada gole, escorrega seco,
Sóbrio e arrojado,
Ao tempo que doce
E acolhedor.


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Boas meninas não podem pensar,
indagações as tornam imprestáveis.
Suaves, discretas, bonitas, perfeitas...
Deve possuir fé (mesmo que falsa).
saber cozinhar, lavar, engomar.
Ter bom emprego.
Ser boa de cama,
porém, não vulgar.
Boas meninas não podem ler.
Horizontes expandidos
criam curiosidade,
conhecimento e dúvidas.
Boas meninas não pensam,
apenas caminham em passos
minúsculos, de saltos discretos,
embaixo de vestuário em tom
pastel, penteado de coque, lábio e unha nude.


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Eles passam.
Sempre passarão.
Como verões ensolarados
que deixam saudades
quando chega o inverno.