terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Muito bom esse grupo de ballet
http://www.youtube.com/watch?v=Mog--n14v3I&NR=1

INEVITÁVEL


Tem dias que a vida acorda tão inevitavelmente irritante. que o calor do sol é muito incoveniente e até as flores se abrindo lá fora são uma afronta. Dias assim, que ninguém devia levantar, nem nos dar bom dia. nesses dias tudo que deveria ser ouvido era o som do silêncio. meus ouvidos são muito sensíveis e algumas vozes me soam como estridente sons de guitarras mal tocadas.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

SALOMÉ(Eugênio de Castr)


"Radioso véu, mais leve que um perfume,
Cinge-a, deixando ver sua nudez morena,
Dos seus dedos flameja o precioso lume
E em cada mão traz uma pálida açucena.
E a infanta avança. Ao som dos burcelins...
Como sonâmbula perdida
Em encantos, místicos jardins,
Dir-se-ia que dança desmaiando
Ao perfume das flores que estão em roda...
Dir-se-ia que dança e está sonhando...
Dir-se-ia que a estão beijando toda..."

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Pedro e Inês

Me dei de presente de aniversário este vídeo incrível que sempre me toca quando vejo.
http://www.youtube.com/watch?v=daULhJWtJRs

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

SONÍFERA ILHA(Titãs)

Não posso mais viver assim
ao seu ladinho,
por isso colo o meu ouvido
no radinho de pilha,
pra te sintonizar
sozinha, numa ilha.

Sonífera ilha!
descança meus olhos
sossega minha boca
me enche de luz.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

PSICOLOGIA DE UM VENCIDO(Augusto dos Anjos)



"Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme - este operário das ruínas
-Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!"

O POETA (Butterfly)


O Poeta morreu numa tarde de outubro. Encontraram seu corpo por acaso na margem da lagoa de água turva. Sua insignificante existência extinguia-se ali. Poeta de sonetos de rimas pobres e poemetos menores. Apagou-se o facho de luz da sua vela vermelha. Deixou uma pequena carta de despedida sobre um móvel velho de seu quarto, mas ninguém havia lido seus últimos escritos. Pediu um epitáfio aos amigos, porém não se encontrou ninguém para fazê-lo. No velório do poeta, um caixão negro de arabescos marrons e uma velha senhora de lenço na mão lacrimejava de uma tristeza profunda. Na última linha de sua carta dizia: "Foi poeta, triste, vagabundo e sem valor, morreu de maneira vil, amando quem nunca o amou".

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

AURORA(Carlos Drummond

AURORA
O poeta ia bêbedo no bonde.
O dia nascia atrás dos quintais.
As pensões alegres dormiam tristíssimas.
As casas também iam bêbedas.
Tudo era irreparável.

Ninguém sabia que o mundo ia acabar
(apenas uma criança percebeu mas ficou calada),
que o mundo ia acabar às 7 e 45.
Últimos pensamentos! últimos telegramas!
José, que colocava pronomes,
Helena, que amava os homens,
Sebastião, que se arruinava,
Artur, que não dizia nada,
embarcam para a eternidade.

O poeta está bêbedo, mas
escuta um apelo na aurora:
Vamos todos dançar
entre o bonde e a árvore?

Entre o bonde e a árvore
dançai, meus irmãos!
Embora sem música
dançai, meus irmãos!
Os filhos estão nascendo
com tamanha espontaneidade.
Como é maravilhoso o amor
(o amor e outros produtos).
Dançai, meus irmãos!
A morte virá depois
como um sacramento.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

TEMPESTADE(Butterfly)

Poças d'água se formaram lá fora, depois do temporal da madrugada. água limpa da chuva ácida que caiu mais cedo. e pétalas de rosas chuviscaram os jardins. e galhos secos emaranharam-se por todo o bosque da rua de trás.
Olhos tristes de observar tanta beleza. Tanta catástrofe: os telhados se foram com o vento, enquanto as crianças corriam desesperadas para procurar abrigo.
A àgua escorreu vagarosa por muitas horas seguidas e nunca deixavam de passar de frente a janela: contínua, barrenta, carregando vida em suas correntezas.
No jardim do vizinho, ainda florescem algumas margaridas e nos galhos da roseira nascem minúsculas folhas verdes, apontado de uma esperança renovadora.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

BANHO(Butterfly)

embaixo do chuveiro esfreguei compulsivamente a pele. minúsculas gotículas de sangue emergiram. limpar-se da sujeira da vida. não adiantava, quanto mais esfregasse, mais suja parecia.
as gotas de sangue aumentavam consideravelmente. a pele demonstrava escoriações. nas vermelhas mãos uma esponja natural.
pelo chão do box escorria uma grossa camada de um líquido espesso: misto de água, espuma e sob a espuma uma fina fita avermelhada redemoinhava em direção ao ralo.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

TEMPO(Butterfly)

acordei vazia de viver. e muito cheia de sobreviver. dormi emburrada e de calça jeans. amanheci com olheiras profundas. dormi cedo mesmo contra vontade. que dia besta estava por vir. de repente já havia se acabado. o tempo passa pausadamente diante de meus olhos murchos. e o ponteiro dos segundos me atormenta a cada tic-tac.
o cenário preto e branco não mudou, mesmo depois de tudo... mesmo depois de ontem... uma nuvem negra se instalou em meu destino e nenhum sopro de vento passa por aqui.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A VERSÃO NOVA DE UMA VELHA HISTÒRIA...(CAZUZA)

Eu não sei o que o meu corpo abriga
Nestas noites quentes de verão
E nem me importa que mil raios partam
Qualquer sentido vago de razão
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Outra vez vou te cantar, vou te gritar
Te rebocar do bar
E as paredes do meu quarto vão assistir comigo
A versão nova de uma velha história
E quando o sol vier socar minha cara
Com certeza você já foi embora
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Outra vez vou me esquecer
Pois nestas horas pega mal sofrer
Da privada eu vou dar com a minha cara
De panaca pintada no espelho
E me lembrar, sorrindo, que o banheiro
É a igreja de todos os bêbados
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Down... down
Eu ando tão down

domingo, 12 de outubro de 2008

NE ME QUITTE PAS(Butterfly)

ontem tive notícias de um suicídio. abalado, o coração se arremeçou de meu peito. foi só mais um. de tarde olhei para a mucamba na estante, me olhou com ar soberano de quem tem duzentos anos de experiência, mas nada me disse. sentiu vontade de falar, mas calou-se. meu coração ainda palpitava não sei de que emoção, chegou a noite e ainda palpitava. um disco antigo tocou por horas seguidas uma música francesa. senti vontade de me rasgar. de pular do último andar de qualquer prédio. e a imagem do suicídio voltou-me num relâmpago, dizem que era jovem. uma chuva garoada caía e era silêncio total naquela manhã de outubro. e a mucamba ainda me olhava, sem nada dizer.

sábado, 11 de outubro de 2008

SenSaÇão(butterfly)

não posso mais ouvir Lenine com sua voz dilacerante, me despedaço. no carro, no quarto, em todos os cantos, Lenine vive em mim, provocante, choroso. Lenine, Lenine, boas e más lembranças. lembranças e "saudade de um tempo que ainda não passou". Cazuza já não entra em meu Gradiente. CENSURADO por tempo indeterminado. Elis, me encarreguei de riscar sem pedir licença pra Jobim. e a IRA que me envolve toda vez que ouço uma música aí de um grupo qualquer. Há sons que preferia ser surda a ter que ouvir, não por ser ruim, mas por ser bom demais... e trazer tão profundas verdades... e fazer sangrar tão vermelhas e vivas feridas. velhas, doloridas, impalpáveis.

UNA LETRA HERMOSA (ANA C.)


Tu estavas para chegar. Numa providência, desapaixonei-me, num risco, numa frase: Não adiantam nem mesmo os bilhetes profanos pela grande imprensa. Saudades de Catarina impecável riscando o chão da sala. Perdemo-nos, é tardíssimo, um deserto industrial com perigosas bocas imperguntáveis. Atenção, estás a falar para mim, sou eu que estou aqui, deste lado, como um marinheiro na ponta escura do cais. É para ti que escrevo, hipócrita. Para ti – sou eu que te seguro os ombros e grito verdades nos ouvidos, no último momento. Jogo-me aos teus pés inteiramente grata – bofetada de estalo, descolagem lancinante, baque de fuzil.
É só para ti y qué letra tán hermosa, pratos limpos atirados para o ar, circo instantâneo, pano rápido mas exacto descendo da tua cabeleira de um só golpe, e o teu espanto!

O TEATRO IMITA A VIDA... MAS SOMENTE ELE(O TEATRO) TEM ESSA FORÇA


LADY MACBETH.
Homem fraco! Dá-me os punhais.
Aqueles Que estão mortos ou dormem são pinturas
Apenas. As crianças é que temem
Ver o diabo pintado. Se ele sangra
Ainda, besuntarei de sangue as faces
Dos homens: é preciso que sobre eles
Recaia a culpa.(Sai. Batem à porta)


MACBETH.
Quem será que bate?
O que há comigo, que qualquer ruído
Me sobressalta assim? Que mãos são estas?
Oh, elas horrorizam-me! me arrancam
Os olhos! Lavaria o grande oceano
De Netuno esta mão ensangüentada?
Não! esta minha mão é que faria
Vermelho o verde mar de pólo a pólo!
(Volta Lady Macbeth)

LADY MACBETH.
As minhas mãos estão da cor das tuas.
Mas me envergonho de guardar tão branco
O coração.

William Shakespeare - Macbeth - Tradução de Manuel Bandeira.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A POESIA DE BIBI


UM SONHO(NÚBIA RODRIGUES in MORTE SECRETA)




uma luz invadiu meu quarto e me embriagou
fiquei bêbada de luz e de esperança
numa rua da cidade me perdi
e me encontrei outra vez criança.


viajei por castelos imaginários
todos feitos de areia e de esquecimento
onde a lágrima dissolvia-se em canção
e ondas descansavam sem lamento.


as crianças eram compostas de gás
todas elas de encanto e de magia
e eu corria por ruas de papelão.


desse sonho, de uma luz que enebria
só restou, na boca e no pensamento
um amargo gosto doce de alegria.

A PRIMEIRA MÚSICA QUE...


Preciso dizer que te amo( Dé, Bebel e Cazuza)


E eu nem sei que hora dizer
Me dá um medo (que medo)
É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
É que eu preciso dizer que eu te amo
Tanto
E até o tempo passa arrastado
Só pra eu ficar do teu lado...
Ouça a música:

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

PRECIOSIDADES(butterfly)



sinto saudade da velha casa da esquina e de seus pássaros empuleirados ao cair da tarde. da rede estendida na área da frente. do beijo, em noite quente, sob a luz da lua. sinto saudade do verde e do ferrugem dos carros lá fora. de rolar na grama verde e sentir pinicar depois.

sinto saudade da velha casa da esquina e de suas paredes apodrecidas. das formigas fazendo ninho no encanamento. das cigarras que sempre odiei, cantando lá fora. das coisas velhas e boas que vivi em cada cômodo. sinto saudade de dormir no chão.

sinto saudade da velha casa da esquina da rua Gonçalves.




SONETO(AUGUSTO DOS ANJOS)

Adeus, adeus, adeus! E, suspirando,
Saí deixando morta a minha amada,
Vinha o luar iluminando a estrada
E eu vinha pela estrada soluçando.

Perto, um ribeiro claro murmurando
Muito baixinho como quem chorava,
Parecia o ribeiro estar chorando
As lágrimas que eu triste gotejava.

Súbito ecoou do sino o som profundo!
Adeus! - eu disse. Para mim no mundo
Tudo acabou-se, apenas restam mágoas.

Mas no mistério astral da noute bela
Pareceu-me inda ouvir o nome dela
No marulhar monótono das águas!

CIDADEZINHA FANTASMA(butterfly)





as esquinas estão vazias e voam papéis avulsos por toda a avenida. as crianças desmoronaram dos precipícios e as mulheres desceram na enxurrada  a rua vazia. e o sopro forte do vento batendo nas janelas pintadas de amarelo. e a poeira invadindo as casas pelas frestas. um coração pulsando jogado no asfalto quente. vermelho-sangue, rosa-neon, amarelo-manga. tum,tum... bate a porta na tramela. pulsa forte o coração sob o sol de agosto quente.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O PODER DA MÚSICA...

CLIQUE ABAIXO E SINTA:
http://www.kboing.com.br/script/radioonline/radio/player.php?musica=200451&op=1&rd=43906

ANTIGUIDADES(butterfly)




rasguei todas as cartas e lembranças e de nada adiantou. quebrei os quadros de Van Gogh e o grafite do Bocage que eu tinha na minha parede. e nada...queimei os livros de poemas e pisei na cabeça dos meus anjinhos de estante. e nada...limpei a minha caixa de recados, e agora estou riscando os discos e mesmo assim nada... me falta agora destruir a única lembrança que restou... mas esta ainda não sei como... mas acho que de nada adiantou.

Noite de inferno (Artur Rimbaud)



Bebi um grande gole de veneno. - Três vezes bem-dito o conselhoque até mim chegou! Abrasam-se-me as entranhas. A violência doveneno convulsiona-me os membros, desfigura-me, atira-me ao solo.Morro de sede, sufoco, não posso gritar. É o inferno, a condenaçãoeterna! Olhai como o fogo cresce. Queimo como devo queimar! Sai,demônio!Havia entrevisto a conversão ao bem e à felicidade, a salvação.Posso descrever a visão? O ar do inferno não tolera hinos! Erammilhões de criaturas encantadoras, um suave concerto espiritual, aforça e a paz, as nobres ambições, que sei eu?As nobres ambições!E é ainda a vida! - Se a condenação é eterna! Um homem que quermutilar-se está condenado, não é assim? Acredito-me no inferno,logo estou nele. É o cumprimento do catecismo. Sou escravo de meubatismo. Pais, fizestes a minha desgraça e a vossa! Pobre inocente! -O inferno nada pode contra os pagãos. - É a vida. Mais tarde, asdelícias da condenação serão mais profundas. Um crime, depressa,que as leis humanas me precipitem no nada.Cala-te, mas cala-te!... Esta é a vergonha, esta a repreensão: Satã quediz que o fogo é ignóbil, que minha cólera é terrivelmente louca.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

As Metamorfoses do Vampiro (Charles Baudelaire)




















E no entanto a mulher, com lábios de
framboesa
Coleando qual serpente ao pé da lenha acesa,
E o seio a comprimir sob o aço do
espartilho,Dizia, a voz imersa em bálsamo e tomilho:
- "A boca úmida eu tenho e trago em mim a ciência

De no fundo de um leito afogar a
consciência.
As lágrimas eu seco em meios seios
triunfantes,
E os velhos faço rir com o riso dos infantes.
Sou como, a quem me vê sem véus a
imagem nua,
As estrelas, o sol, o firmamento e a lua!
Tão douta na volúpia eu sou, queridos
sábios,
Quando um homem sufoco à borda de
meus lábios,
Ou quando os seio oferto ao dente que o mordisca,
Ingênua ou libertina, apática ou arisca,
Que sobre tais coxins macios e olventes
Perder-se-iam por mim os anjos impotentes!"

Quando após me sugar dos ossos a medula,
Para ela me voltei já lânguido e sem gula
À procura de um beijo, uma outra eu vi então
Em cujo ventre o pus se unia à podridão!
Os dois olhos fechei em trêmula agonia,
E ao reabri-los depois, à plena luz do dia,
Ao meu lado, em lugar do manequim altivo,
No qual julguei ter visto a cor do sangue vivo,
Pendiam do esqueleto uns farrapos oeirentos,
Cujo grito lembrava a voz dos cata-ventos
Ou de uma tabuleta à ponta de uma lança,
Que nas noites de inverno ao vento se balança

 .